Uma pessoa morreu e duas ficaram feridas ontem à noite (17) em mais um acidente envolvendo anta na MS-040, entre Campo Grande e Santa Rita do Pardo, cidade a 230 quilômetros da Capital. Esta é a segunda morte somente neste mês e a sétima nesta mesma estrada desde 2015, quando foi pavimentada.
A vítima mais recente é Jhonny Roberto de Santana Siqueira, de 38 anos, natural de Hortolândia (SP). Ele dirigia uma van que estava a caminho de Campo Grande. E, conforme bombeiros de Santa Rita do Pardo, uma anta literalmente voou para dentro do veículo dele depois que ela foi atropelada por um carro de passeio que seguia no sentido contrário.
O animal, com cerca de 180 quilos, caiu sobre o motorista da van, que perdeu o controle da direção, saiu da pista e morreu prensado pela força do impacto. Bombeiros tiveram de receber ajuda para retirar o animal de dentro da van para conseguir resgatar o corpo do motorista.
No outro carro, pertencente à prefeitura de Bataguassu, estavam três pessoas, sendo que duas sofreram ferimentos considerados leves e foram levadas para o hospital Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Santa Rita do Pardo.
O acidente aconteceu por volta das 18 horas, na altura do KM 171, a cerca de 60 quilômetros de Santa Rita do Pardo. Neste trecho, segundo agentes de segurança pública da cidade do interior, a rodovia está tomada por buracos e o mato alto praticamente invade a pista, o que é uma dificuldade a mais para que os motoristas vejam os animais que estão entrando na rodovia, que já foi construída sem acostamento.
ROTINA
No último dia 5, a vítima foi José Augusto Croneis, de 65 anos, que estava numa caminhonete com outros três pescadores que retornavam de Miranda para o Estado de São Paulo. Os demais ocupantes da Hilux sofreram ferimentos e tiveram de receber atendimento na Santa Casa de Campo Grande, já que o veículo capotou várias vezes depois de atingir uma anta nesta mesma rodovia.
A informação de que agora já são sete as mortes neste trecho é de Patricia Medici, doutora em Manejo de Biodiversidade e coordenadora da Iniciativa Nacional para Conservação da Anta Brasileira (INCAB).
Ela monitora a estrada desde março de 2015, três meses depois da inauguração. E, de acordo com ela, não existe registro exato de pessoas feridas e nem de possíveis mortes ocorridas dias depois em hospitais. Mas, além das mortes, são dezenas de pessoas que sofreram ferimentos nos incontáveis acidentes que já ocorreram nesta rodovia.
E, de acordo com os registros da doutora, desde o dia em que o monitoramento começou, 207 arcaças de antas foram encontradas à beira da estrada, todas mortas por atropelamentos. “É uma média de 30 animais só dessa espécie mortos por ano”, explica.
Mas o número de mortes é pelo menos 50% maior, acredita. Tem muitos animais que são levados embora pelas pessoas que atropelam, são removidos pelos gestores da rodovia e outros são atingidos, continuam andando e acabam morrendo longe da estrada, no meio das fazendas. Estas mortes acabam não sendo catalogadas, explica.
De acordo com o tenente-coronel Edmilson Queiroz, da Polícia Militar Ambiental (PMA) a maior parte dos acidentes acontece no começo da manhã e no fim da tarde, horário em que as antas andam em busca de alimento. O caso de ontem aconteceu por volta das 18 horas.
De acordo com ele, na MS-040 existe uma série de sinalizações, inclusive sinais sonoros no asfalto, alertando motoristas para que tenham cuidado e para que reduzam a velocidade. Estes avisos fazem parte do projeto “Estrada Viva”, que monitora outras cinco rodovias no Estado onde acidente com animais são frequentes.
Mas estas medidas estão se mostrando ineficazes. Conforme Patrícia Médici, desde 2016 existe um projeto nas mãos do governo do Estado apontando o que deveria ser feito para mitigar o problema. Ao longo dos 210 quilômetros existem pelo menos 50 passagens sob a rodovia, muitas delas feitas por fazendeiros que precisam levar o gado de um lado para outro.
O Instituto sugere que a Agesul instale tela reforçada ao longo de 500 metros de cada lado destas passagens subterrâneas e nos dois lados da pista. Além disso que faça uma espécie de corredor em alguns locais para que as antas sejam conduzidas a utilizarem estas passagens. Se isso não for feito, pessoas vão continuar morrendo, disse a doutora no dia 06 de maio. E, a previsão dela acabou se confirmando nesta quarta-feira.
Conforme a Agesul, do começo do ano até o início de maio haviam sido registrados 13 acidentes envolvendo antas e veículos nesta rodovia. A assessoria do órgão estadual informou que já existe um projeto em andamento para recuperação total do asfalto e para instalação de telas e novas passagens subterrâneas em alguns dos locais mais críticos, mas não informou prazo para que as intervenções tenham início.
PROBLEMA AMPLO
Não é só na MS-040 que ocorrem os acidentes envolvendo antas. De 2013 para cá existe registro da morte de mais de 700 antas em rodovias de Mato Grosso do Sul Patricia Medici lembra que o caso mais grave no Estado aconteceu na BR-267 (que é paralela da MS-040), no dia 3 de setembro de 2015.
Naquele dia, uma van retornava de Campo Grande para Nova Andradina e após bater numa anta atingiu uma carreta que vinha no sentido contrário, pegou fogo e oito pessoas acabaram morrendo. Somente uma mulher, que foi arremessada da van, sobreviveu. O caminhoneiro também saiu com vida.
De 2013 até o fim do ano passado, de acordo com Patricia, cerca de 40 pessoas morreram em acidentes envolvendo animais silvestres em 34 rodovias de Mato Grosso do Sul. Contudo, a estrada com maior frequência de casos graves (excluindo o acidente com 8 mortes da BR-267) e que precisa de intervenção com urgência, é a 040, de acordo com ela.
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