Ao menos 18 barragens estão sob risco de colapso no Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul vive a pior tragédia ambiental de sua história. Até o fechamento desta edição, 29 pessoas morreram desde o último domingo, de acordo com a Defesa Civil do estado, e 60 estão desaparecidas. As enchentes — que deixaram 15 mil desabrigados em 204 cidades, segundo o governador, Eduardo Leite (PSDB) — tendem a piorar nos próximos dias. Ao menos 18 barragens correm risco de rompimento, de acordo com alerta divulgado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura. Elas estão localizadas, principalmente, na região da Serra Gaúcha. De acordo com a secretaria, as barragens estão sob gestão do estado, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan).

Ontem, a Barragem 14 de Julho, em Cotiporã, rompeu durante à tarde e elevou ainda mais o nível dos rios Taquari e das Antas. Praticamente todos os rios da região estão com água acima do nível de inundação. A situação é crítica no Rio Taquari que, na última medição do Serviço Geológico do Brasil (SGB), às 14h de ontem, estava em 31 metros, recorde histórico. Na última grande enchente do Rio Grande do Sul, em setembro do ano passado, que foi, à época, considerada a maior catástrofe ambiental do estado até então, o nível do rio atingiu 29 metros.

A diretora do SGB Alice Castilho alertou que o impacto máximo do rompimento parcial da barragem se daria na madrugada de hoje, afetando as cidades de Muçum, Encantado e Roca Sales. A medição desta manhã deverá trazer o número atualizado de profundidade do Rio Taquari.

Desde domingo, alguns municípios ultrapassaram o acumulado de 500mm de chuva. Para se ter ideia, a média histórica de precipitação para o mês de abril apenas na capital Porto Alegre, considerando a série 1991/2020, é de 114,4mm. No site de meteorologia Ogimet, que reúne municípios com o maior volume de chuva em todo o mundo, oito cidades gaúchas aparecem entre as dez com maior nível de precipitação.

O governador Eduardo Leite, que se reuniu, ontem, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e uma comitiva de ministros, em Santa Maria (Leia mais na página 6), afirmou que o acumulado em algumas regiões do estado pode chegar a 800mm nos próximos dias.

“Infelizmente, já está pior do que em outros momentos. O que a gente viu na enchente, em setembro (de 2023), foi um grande volume de chuva em um dia, (o nível dos rios) subiu rapidamente e, no outro dia, estávamos fazendo resgate de pessoas, e a água estava baixando. Neste momento, a gente tem um grande volume disperso, ao longo da semana, e vai continuar chovendo. Os rios já estão em patamares históricos, podem ter (mais) algum grau de elevação e vão demorar a baixar porque vão continuar recebendo água de outras localidades”, alertou o governador, que decretou calamidade pública em todo estado na noite de quarta-feira.

No ano passado, com as chuvas que ocorreram, foram registradas mais de 50 mortes. Agora, a quantidade de desaparecidos (60) indica que esse número pode ser ultrapassado. Leite destacou que o principal objetivo, neste momento, é retirar as pessoas ilhadas e as que estão em áreas de encostas, sujeitas a deslizamentos de terra.

ResgatesA Defesa Civil gaúcha estima que cerca de 4,6 mil pessoas foram retiradas até ontem de áreas de risco. Uma força-tarefa está sendo montada para auxiliar a missão, com equipes da Força Aérea Brasileira (FAB), do Exército e da Marinha, além de bombeiros enviados pelos governos de São Paulo, de Santa Catarina e do Paraná.

A maior parte dos salvamentos está sendo feita por helicópteros, apesar do mau tempo. Uma equipe da Polícia Militar foi acionada para resgatar duas pessoas que ilhadas em cima de um telhado no município de Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari. Uma pessoa foi içada pelos bombeiros, mas a outra acabou sendo levada pela água, depois de a casa desabar. “A Brigada Militar lamenta profundamente o ocorrido e reafirma o seu esforço incansável no resgate, auxílio e ações humanitárias”, declarou a corporação, em nota.

Fonte: Henrique Lessa e Mayara Souto/CB

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