Celulose e fábricas fazem economia “bombar” em cidades do Bolsão

Por Maristela Brunetto

Antes, quem seguia pela MS-377, entre Água Clara e Paranaíba, percebia um imenso vazio, era possível percorrer quilômetros e quilômetros sem cruzar com nenhum veículo, num cenário bem diferente da vizinha BR-262, que liga Campo Grande a Três Lagoas. Essa calmaria já não existe mais, a estrada estadual já sentiu os reflexos da expansão da atividade florestal e a construção de uma nova fábrica de celulose à beira da rodovia, na região de Inocência, uma unidade da chilena Arauco.

A estrada passou a ser rota para um número maior de caminhões, veículos de passeio, utilitários, carros de empresas. O impacto do desenvolvimento econômico não se resume ao tráfego de veículos. Nas cidades, ele também está a olhos vistos. Municípios da região leste já vivenciavam incremento no trânsito de pessoas com o aumento do plantio de florestas de eucalipto na região, atendendo às várias fábricas do Estado e até de São Paulo, mas o início da terraplanagem para a construção da unidade da Arauco fez a economia girar mais.

Como era de se esperar, a cidade a receber o maior investimento, com a instalação da fábrica, a pacata Inocência, que fica a cerca de 40 km do empreendimento, viu a movimentação ampliar no ano passado e sobreveio aquecimento recente, com a fase que deve durar um ano e empregar cerca de 1.800 pessoas na preparação da área, à margem da MS-377.

As lojas de material de construção comemoram o aumento da movimentação. Para obras rápidas, alguns materiais mais tecnológicos, como drywall, painéis isotérmicos, são trazidos dos estados vizinhos.

As ruas da cidade já ficaram mais movimentadas e a comunidade até teme passar a conviver com engarrafamento. Caminhões para entrega de produtos estão mais frequentes na cena da cidade, assim como mais ônibus e pessoas de fora.

Em Inocência há trabalhadores de fora morando em alojamentos, hotéis e quitinetes. O preço dos alugueis e terrenos disparou, não há casas disponíveis para a venda. Terreno que não chegava a R$ 90 mil agora é oferecido por R$ 150 mil, conta a arquiteta Natália da Silva, dona de uma loja de material de construção.

Ela acredita que a urgência da expansão vai resultar na criação de muitos imóveis de contêineres. Na cidade de Ribas, que assim como Inocência recebeu uma gigante da celulose, a Suzano, na área urbana há até hotel de andares feito com contêineres e uma empresa à margem da BR-262 tem dezenas de unidades para serem usadas em edificações, apostando nessa demanda.

A prefeitura da cidade vai se preparando para as mudanças. Uma creche foi ampliada, outra será licitada e há previsão de uma terceira com recursos assegurados por emenda parlamentar. Um concurso público foi aberto e um Plano Diretor está sendo debatido para disciplinar o crescimento da cidade. O Governo do Estado anunciou

Inocência tem oito mil moradores e há estimativa de que a população chegue a 20 mil em dez anos, com a economia local saltando da 48ª posição para ficar entre as dez maiores com o impacto da fábrica.

Cassilândia passou a ser opção para alojar trabalhadores da região, até de estado vizinho (Foto: Governo do Estado)
Cidades vizinhas também acabam embarcando nessa movimentação. Três Lagoas e Água Clara ficam a cerca de 140 km e Paranaíba e Cassilândia estão a 89 km cada.

Cassilândia já tinha se tornado uma cidade dormitório para atender demandas de terceirizadas que cultivam florestas de eucalipto e até encaminhar trabalhadores para atender fábrica na vizinha Jataí, em Goiás.

Houve esforço para atrair trabalhadores para morar ali e trabalhar na região. A gestora da Casa do Trabalhador, Cristina Passos, conta que há muitos homens que por enquanto estão sozinhos alojados na cidade, mas com expectativa de adiante buscar a família e fixar residência em Cassilândia, mesmo que trabalhando em outras cidades da região.

Ela contou que novos empreendimentos chegaram com o aquecimento da economia no Bolsão, como serviços de internet, energia solar e restaurantes. A cidade também recebeu equipe da concessionária da rodovia MS-306, que foi repassada ao setor privado na região, a Way 306.

A movimentação de trabalhadores alojados em Cassilândia é feita de ônibus e vans. Além de hotéis, casas também foram alugadas para receber essas pessoas.

Paranaíba sentiu a movimentação na economia, com hoteis lotados e corrida por imóveis (Foto: Divulgação Governo/ Chico Ribeiro)
Hoteis lotados – Em Paranaíba a movimentação se reflete na ocupação dos hotéis. Em dia de semana, quem chega à cidade em busca de hospedagem sem reserva corre o risco de não encontrar vagas. De olho no movimento já teve empresário que decidiu reabrir hotel que estava desativado.

Henrique de Freitas trabalha em um dos hoteis da cidade e conta que entre segunda e sexta, a ocupação é completa. Aos finais de semana, a movimentação cai, com pessoas retornando às cidades de origem. No local onde trabalha há 30 quartos, com cama de casal e solteiro e 4 apartamentos contam com 4 camas de solteiro.

Além do fluxo de trabalhadores do setor florestal, a cidade também recebe pessoas envolvidas com a construção de uma usina de álcool na cidade, na saída para Cassilândia, na BR-158, que anunciou investimento de R$ 400 milhões e oferta de 1,8 mil empregos. São trabalhadores do vizinho São Paulo, outros originários do Nordeste, em busca dos empregos gerados na região, antes bastante focada na pecuária.

O mercado imobiliário também sente o aquecimento com a movimentação gerada pelas indústrias. O presidente da Associação Empresarial de Paranaíba, Frederico Chalub, que é do setor, revela que o aluguel aumentou de valor e há maior procura por imóveis para compra. Está difícil encontrar casa para locação, conta Chalub.

O movimento também envolve imóveis comerciais, com os hotéis, restaurantes, até postos de combustíveis. Esse aquecimento traz pessoas de fora para empreender na região. Chalub conta que empresários até do Distrito Federal já se interessaram em investir na cidade.

Maior beneficiada? – Ele tinha imóveis locados e decidiu construir quitinetes para atender a demanda. Chalub ousar estimar que Paranaíba deve ser a grande beneficiada com a chegada da fábrica da Arauco, por ser maior e ter mais serviços e infraestrutura que Inocência, como escolas e atendimento em saúde.

Ele está otimista com a chegada de mais gente para trabalhar na cidade, que, por conta do aquecimento, receberá uma unidade do IFMS e serviços do Senai.

A maior cidade da região leste e que se tornou uma das principais economias do Estado com a chegada de duas fabricas de celulose- Eldorado e Suzano- ainda não percebeu alteração ocasionada pelo começo das obras da empresa chilena em Inocência, mas a Secretaria de Desenvolvimento Econômico estima que logo começarão a chegar demandas na cidade.  CAMPO GRANDE NEWS

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