A área ocupada pela citricultura pode chegar a 15 mil hectares com o anúncio de um novo empreendimento, desta vez no município de Três Lagoas. O investimento será de empresários paulistas; eles estiveram reunidos na manhã dessa sexta-feira (10) com o governador Eduardo Riedel e com o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, para apresentar o plano de negócios.
Os produtores de São Paulo pretendem plantar 5,1 mil hectares de laranja e, num futuro próximo, instalar uma fábrica de suco. O plantio começa com 760 hectares e vai sendo ampliado gradativamente; todo o pomar será irrigado, o que aumenta o potencial produtivo das plantas.
“Vamos fazer esta nova produção de citricultura no Estado e por isso viemos aqui conversar com o governador. Saímos satisfeitos com a receptividade e portas abertas do Estado. Já estamos com as licenças prontas e vamos começar o projeto, em uma cultura que vai gerar empregos, já que precisa de uma mão de obra maior”, destacou o empresário Jamil Buchalla Filho.
Ele adiantou ainda que na área será feito um viveiro, com as mudas de dentro do próprio Estado. “Resolvemos fazer neste modelo até para garantia de não trazer de outros estados em função da doença de greening. Já compramos uma parte da irrigação para começar o plantio”, completou.
O greening, ou “doenças do ramo amarelo”, é considerada a praga dos citros de maior importância no mundo em função da dificuldade de controle, da rápida disseminação e por ser altamente destrutiva. O primeiro relato da doença foi feito da China, em 1919, espalhando-se daí para outros países. No Brasil (São Paulo) foi relatada em Araraquara em 2004, estando hoje em mais de 100 municípios produtores (dados da Embrapa).
Setor em expansão
A citricultura é uma alternativa em expansão no Estado. Recentemente, o Grupo Cutrale (conglomerado de empresas que lidera as exportações brasileiras de laranja) anunciou investimento no valor de R$ 500 milhões no plantio de 5 mil hectares de laranja na Fazenda Aracoara, propriedade localizada às margens da rodovia BR-060, na divisa de Sidrolândia com Campo Grande.
A previsão, segundo o diretor agrícola da Cutrale, Valdir Guessi, é iniciar o projeto ainda em agosto.
Os investimentos seguem em outras cidades. O Grupo Junqueira Rodas começou em abril o projeto de citricultura em Paranaíba, com a intenção de plantar em 1,5 mil hectares, e já anunciaram que vão produzir em Naviraí no segundo semestre, com mais 2,5 mil hectares.
A coordenadora da horticultura da Semadesc, Karla Nadai, destacou que com o anúncio desta nova produção no Estado, a previsão é que o plantio da citricultura no Mato Grosso do Sul chegue a 15 mil hectares. “Uma grande evolução no setor, que antes contava apenas com 2 mil hectares plantados”, pondera.
“Isso já posiciona o Mato Grosso do Sul como um grande player de produção de laranjas no País”, destaca o secretário da Semadesc, Jaime Verruck. Ele chama a atenção para o alto grau de investimento do setor e o que isso representa para a região. “O cultivo de 1 hectare de laranja demanda recursos de R$ 100 mil. Além disso, temos que avaliar a diversificação na área de pecuária e eucalipto que predomina nessa região. É uma cultura com alto valor agregado e com potencial significativo de diversificação tecnológica”, completou.
O secretário relata, ainda, o preparo que o Estado fez para se chegar a esse momento. “Nós desenvolvemos, no âmbito da Semadesc, o Programa Estadual da Citricultura e nele, nós temos o foco de ampliar a produção de laranja, que é uma grande oportunidade. Já assinamos um convênio com a Fundecitrus, que é fundamental, sob o ponto de vista técnico, já mandamos à Assembleia um projeto de lei que trata da sanidade vegetal da citricultura, também vital para que possamos avançar”.
Infraestrutura e energia
O Governo de Mato Grosso do Sul tem agilizado questões importantes para viabilizar o setor, como investimentos em infraestrutura, logística, escoamento da produção e até a mediação da questão energética está tendo o apoio dos órgãos estaduais.
Outro ponto positivo do Estado é que os investidores encontram, aqui, uma alternativa segura da produção, livre da doença greening. “Mato Grosso do Sul tem uma legislação rígida, com ‘tolerância zero’ a doença. Aqui, se a planta estiver doente deve ser erradicada e o pomar, monitorado”, enfatiza Nadai.
A Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal), inclusive, emitiu um alerta aos produtores rurais e a população geral sobre o perigo da compra de mudas irregulares, que podem trazer graves problemas aos pomares do Estado, principalmente os urbanos e domésticos em função da doença.
Verruck destaca outro ponto com potencial de crescimento após a chegada da citricultura: a geração de emprego. “De um lado, temos o trabalhador altamente qualificado, e durante a colheita, demanda uma mão-de-obra intensiva. O que nós pensamos é que, em longo prazo, deixaremos de enviar muitos de nossos trabalhadores indígenas para o Rio Grande do Sul e vamos começar a absorver essa força de trabalho no próprio território sul-mato-grossense”.
Texto: João Prestes
(Com informações da Secom/MS)
Fotos: Saul Schramm