Por Roberto Chamorro
Inocência é, antes de tudo, um nome literário que batizou a protagonista do romance publicado por Visconde de Taunay em 1872, ambientado na então Vila de Santana do Paranaíba, hoje Paranaíba, no leste de Mato Grosso do Sul e convertido 100 anos depois em filme estrelado por Fernanda Torres e Edson Celulari. Traduzida para seis idiomas, a história da moça sertaneja atravessou o tempo como um relicário do Brasil profundo. Mas foi também a obra que deu nome à cidade vizinha, até então esquecida no mapa do desenvolvimento. O novo capítulo de Inocência começou hoje, não como personagem da dramaturgia, mas como palco de um investimento de R$ 15 bilhões da multinacional chilena Arauco. Sai o romantismo, entra a celulose.
Nesta terça-feira, quem esteve no município foi o presidente em exercício, Geraldo Alckmin, ao lado do governador Eduardo Riedel, para lançar a pedra fundamental do empreendimento bilionário. Com investimento de R$ 15 bilhões e a promessa de gerar 12 mil empregos diretos e indiretos durante a construção, o projeto resgata do anonimato uma cidade de pouco mais de 8 mil habitantes e a insere no mapa das grandes operações florestais globais.
Se no século XIX Inocência simbolizava a fragilidade de uma jovem presa às amarras do sertão e da tradição, no século XXI o nome se reveste de outra simbologia — agora associada à pujança econômica, inovação tecnológica e perspectivas de futuro. De cenário literário a polo industrial, a cidade escreve um novo enredo da história sul-mato-grossense, provando que até mesmo os lugares mais silenciosos guardam potencial para grandes transformações.
Alexsandro Nogueira
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