Dez cidades da Espanha elegem governantes da extrema direita

O partido de extrema direita Vox, em coalizão com o conservador PP (Partido Popular), assumiu o poder em dez grandes cidades espanholas de forma inédita neste sábado. A aliança pode se repetir nas eleições gerais marcadas para o próximo mês que definirão o comando do país.

A cidade medieval de Toledo, que fica a 1h de trem da capital, Madri, e Burgos, no norte do país, estão entre os municípios que elegeram a maioria dos representantes locais na coalizão PP-Vox após as eleições regionais de 28 de maio.

O triunfo da extrema direita no pleito foi um enorme revés ao governo do socialista Pedro Sánchez, que antecipou as eleições gerais para 23 de julho numa tentativa arriscada de unir as esquerdas e driblar meses de desgaste.

O Vox informou em um comunicado que tentará abolir o que considera ser “conselhos ideológicos”, como os dedicados à igualdade, que “desperdiçaram” milhões de euros e “não resolveram problemas reais”. Iniciativa que remete à dissolução de conselhos com representantes da sociedade civil durante o governo de Jair Bolsonaro no Brasil.

O PP, de direita, foi o principal vencedor das eleições regionais, quando se disputaram os governos de 12 das 17 regiões autônomas espanholas, além dos municípios. Os conservadores, que governaram a Espanha mais recentemente de 2011 a 2018, ganharam 6 regiões antes controladas pela esquerda, além de cidades importantes como Valência, a quarta maior do país.

No entanto, precisou negociar com o Vox — que também ampliou sua presença no país — para formar maioria em diversos locais. Outras cidades onde a coalizão tomou posse neste sábado incluem Alcalá de Henares, onde nasceu o escritor Miguel de Cervantes, e Móstoles, nos arredores de Madri.

Pesquisas indicam que o PP ganhará as eleições gerais na maioria dos distritos eleitorais. O sistema parlamentarista espanhol se estende em nível nacional e regional e garante o poder a quem alcança a maioria absoluta nas casas legislativas.

Sánchez tem apostado justamente na ameaça da ascensão inédita de um governo de coalizão ultraconservador e antifeminista no país como tema central da sua campanha para a reeleição. Líder desde 2018, o chefe de governo enfrenta o teste eleitoral com desvantagens, notadamente o desgaste do poder e a inflação elevada, além de confrontos entre os parceiros de coalizão, formada por socialistas e a esquerda radical do Podemos.

O chefe do Vox em Valência, José María Llanos, desencadeou uma enxurrada de críticas quando disse que “violência masculina não existe”. O líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, que quer passar a imagem de moderado, imediatamente tuitou que “a violência de gênero existe e cada assassinato de mulher nos choca como sociedade”. “A partir do PP, não daremos um único passo atrás na luta contra esse flagelo”, acrescentou.

Até agora, o Vox só havia governado em coalizão com o PP na região norte de Castilla y León, mas não em municípios, muito menos um do tamanho de Valencia. Fundado em 2013 por ex-membros do PP, o partido de extrema direita é hoje a terceira maior força política no parlamento espanhol.

Madri (ESP)

(Com O Globo)

(Foto: Fernando Calvo/La Moncloa/AFP)

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