Enquanto Taquari gaúcho tem água demais, Taquari de MS pode secar para sempre

A familiaridade dos sul-mato-grossenses com desastres naturais envolvendo o Taquari já é bem antiga. Tido por muitos especialistas como o maior desastre ambiental do Pantanal, o assoreamento do rio que nasce em Mato Grosso e corta o Pantanal de Mato Grosso do Sul, começou a ser registrado nos anos 60 e já foi considerado irreversível, ideia que vem mudando nos últimos anos.

A triste coincidência é que no mapa brasileiro outro Taquari causa um desastre pelo motivo oposto. Atualmente, o Brasil acompanha atônito as enchentes do rio de mesmo nome, devastando as cidades gaúchas. Neste mês, o Taquari do Rio Grande do Sul registrou a maior cheia da história em 150 anos. O nível chegou a 33,35 m e superou os recordes de 29,92 m (em 1941) e de 29,53 m (em setembro de 2023), criando imagens impactantes daquelas que ficam para história.

Voltando a Mato Grosso do Sul, nosso Taquari padece de um outro mal: o assoreamento, que é possibilidade de extinção de um rio por acúmulo de terra, lixo e matéria orgânica no fundo. Mas será que é possível traçar um paralelo entre o desastre ambiental nos dois rios taquaris?

Para o ambientalista e doutor Ecologia e Conservação pela UFMS, José Milton longo, sim, mas é preciso também se atentar às diferenças.

Semelhanças e diferenças

Segundo o especialista, os dois rios sofrem com a ação, digamos, da gravidade, por terem suas nascentes, e onde os problemas são causados, em lugares mais altos e as áreas impactadas em lugares mais baixos. Além disso, há o reflexo claro da ação humana, sendo o Rio Grande do Sul vítima de uma ação mais indireta e pulverizada, por conta do aquecimento global e Mato Grosso do Sul, sendo atingido por uma atividade mais direta, nos locais onde as consequências aparecem, neste caso o Pantanal.

Já foram realizados estudos e muitos debates para discutir se o assoreamento do Taquari é natural, ou seja, já aconteceria sem a ação humana, ou se é consequência de uma ocupação irregular.

Foto: Marcos Maluf

“Há uma substituição do uso do solo na região da Bacia do Taquari por pastagem para agropecuária, que aumenta o nível de desmatamento. O rio naturalmente tem essa característica de levar sedimento, mas a ação humana, com certeza, acelerou isso a níveis muito mais graves. Já no Rio Grande do Sul, o que há também é a ocupação irregular da população em lugares de risco, o que maximizou o número de mortes”, explicou José Miton.

Um estudo da Associação Brasileira de Recursos Hídricos mostra a evolução nessa degradação. Em 1974, a taxa de desmate acumulado era de 5,6%. No ano 2000, já havia saltado para 62%. De lá para cá, o desmatamento continuou. De acordo com levantamento da iniciativa MapBiomas, de 2000 a 2020, a bacia do Alto Taquari perdeu 851 km2 de formações florestais (quase 15% do que existia) e 1.565 km2 de formações savânicas (quase 30%).

“Para evitar o assoreamento dos rios, é preciso preservar as matas ciliares, que é a vegetação nativa em volta das margens. Elas contribuem para regular a vazão das águas, pois seguram o excesso do volume da chuva, atuando na retenção dos sedimentos”, diz José Milton.

Ciclo água e clima

Ainda conforme o ambientalista, existe uma relação entre o ciclo da água e do clima, que também aponta para uma ligação entre a situação dos dois rios. “Sabe o que altera o meio ambiente? São as frequentes ondas de calor, secas, inundações, incêndios florestais. Todos diminuem a oferta de água e ameaçam o suprimento de recursos hídricos, podendo desencadear em uma crise”, finaliza Milton.

CGN/PCS

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