Fabinho, um negro que saiu da roça em MS, virou juíz e hoje atua no STF

Por Alicia Miyashiro

Nascido em Paranaíba e hoje juiz do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), essa é a história de Fábio Francisco Esteves – uma das principais figuras que inspira alunos de escolas públicas e privadas especialmente neste mês da Consciência Negra.

Sua história começa no fim de 1970, quando sua família se mudou de Minas Gerais (MG) para o município de Paranaíba e depois foi morar em Chapadão do Sul. Lá foi onde passou toda sua infância na zona rural e começou seus estudos.

Cursou o ensino fundamental em uma escola multisseriada na zona rural, localizada a 23 km de sua casa. Sem condições de transportar os filhos diariamente, o pai fez um acordo com os professores para que ele e os irmãos morassem na escola, retornando para casa apenas a cada 15 dias.

Após concluir o fundamental, cursou o ensino médio em Chapadão do Sul e, mais tarde, ingressou na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) em Paranaíba, onde se formou em Direito.

Fábio com seu pai e irmãos – Arquivo Pessoal

“Meu pai era um analfabeto, minha mãe também não tinha muita instrução, mas para ambos a educação é um valor inestimável. Tanto que a vida deles foi toda conduzida para que nós pudéssemos ter educação, para que a gente pudesse ter acesso a educação. Meu pai fez inclusive com que a escola fosse para a zona rural, depois mudou-se da fazenda para poder garantir que eu estudasse, então ele organizou a vida dele toda para que nós pudéssemos estudar”, lembrou Fábio.

Toda a sua escolaridade foi realizada em escolas públicas e, aos 15 anos, decidiu que cursaria Direito para seguir a carreira na magistratura, mesmo sem ter referências na família. A escolha foi intuitiva.

Faixa de agradecimento – Arquivo Pessoal

Fábio ingressou em 1998 na UEMS por meio de vestibular e concluiu o curso em 2003. Após se formar, mudou-se para Brasília já em 2004 – quando foi aprovado em um concurso para o Banco do Brasil.

Aos 23 anos, traçou uma estratégia de que seria aprovado no concurso da magistratura em até seis anos, no entanto, o processo foi mais rápido do que ele imaginava. Em três anos, depois de muito foco e dedicação, passou no concurso do Tribunal de Justiça do DF, e há três anos, Fábio foi convidado para poder atuar com o ministro Edson Fachin – que trabalha com a frente penal no gabinete.

Com toda essa história para contar, o juiz virou livro “Fabinho – da roça aos tribunais”, onde é narrado sua trajetória de vida até chegar em sua carreira de sucesso.

“A escola é um espaço muito importante para as discussões que afetam a sociedade. Algumas das pessoas que hoje estão nesse espaço, amanhã estarão, a partir dessa discussão, preparadas para, se tiver vontade e, evidentemente, se indispor com os privilégios que o racismo estrutural estabelece, terem condições de promover intervenções para poder modificar essa estrutura, essa realidade que tanto desiguala grupos sociais e pessoas”, afirma o juiz de direito Fábio Esteves.

Com um formato lúdico, a obra expõe como o sul-mato-grossense conseguiu lidar com o preconceito por meio da educação e o apoio da família.

“Com o livro, nós temos mostrado para as crianças que eu, enquanto criança, vivi experiências que podem ser iguais às experiências delas. E, ao mesmo tempo, essas crianças conseguem ver o futuro a partir da minha trajetória e isso pode inspirá-las a realizar os sonhos delas, porque naquele momento, enquanto criança, existia um sonho por mudança, um sonho por justiça, que acabou acontecendo”, conta o magistrado.

Livro já foi lançado em 4 municípios do Brasil – Divulgação

Turminha do Bem

Criada em 2015 e com sede em Campo Grande (MS), a Turminha do Bem alcançou mais de 50.000 alunos e contou com a participação de 5.000 professores em mais de 15 municípios.

Idealizada pela doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo, Fernanda de Oliveira, a iniciativa oferece materiais e conteúdos educativos interdisciplinares voltados para alunos da educação infantil e dos ensinos fundamental I e II. O programa utiliza contos associativos e ferramentas de metodologia ativa para complementar o ensino tradicional.

O livro infantil faz parte do projeto “Trilhas da Igualdade”, que é composto por livro, caderno de atividades e jogos para promover a discussão sobre as relações étnico-raciais com alunos de escolas públicas e privadas, da Pré-escola ao Ensino Fundamental I.

Sendo escrito por Claudine Bernardes e ilustrado por Alexsaymour Batista, já foi lançado em Brasília (DF), Chapadão do Sul (MS), Paranaíba (MS) e Cáceres (MT).

“A obra é um instrumento pedagógico poderoso que permite que crianças reflitam sobre questões de raça, identidade e pertencimento”, afirma Fernanda de Oliveira.

 Correio do Estado.

 

 

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