Pacata e ‘princesinha’, Inocência se reinventa como polo industrial em MS

Idaicy Solano

A 330 quilômetros de Campo Grande,  — conhecida como a “princesinha” da costa leste sul-mato-grossense — avança com força no rumo do desenvolvimento econômico. A transformação é impulsionada pela chegada da Arauco, gigante da celulose, que escolheu o município para instalar sua primeira planta no .

A cidade, antes pacata, agora vive um novo ciclo de expansão. Isso atraí investidores e trabalhadores de diversas regiões do país, motivados pelas promissoras oportunidades de emprego e crescimento.

A fábrica, localizada a cerca de 50 quilômetros da cidade, teve as obras de terraplanagem iniciadas em junho de 2024. A mão de obra mobilizou cerca de 2,8 mil trabalhadores na unidade industrial, além de 2 mil na área florestal. Com isso, o município, de apenas 8,4 mil habitantes (de acordo com o censo do ), viu sua população quase dobrar.

Empresários, investidores e profissionais de diversas áreas também passaram a enxergar em Inocência uma oportunidade de crescimento. Agora, o município começa a deixar para trás sua essência sossegada e se reinventa como um novo polo de desenvolvimento no .

A pacata Inocência abre as portas para o desenvolvimento

Em mais um final de tarde, o padeiro Israel Pereira Nunes, de 58 anos, observa por trás do balcão o movimento fora do estabelecimento. A padaria fica localizada na Avenida Juraci Luiz de Castro, uma das mais movimentadas do pequeno município. Do lado de fora, moradores recém chegados ocupavam os canteiros centrais, consumindo produtos dos trailers de comida.

Homem de poucas palavras, Israel demonstra animação e ansiedade em relação à construção da gigante de celulose. Ele aproveita para comprar a cidade antes de sua chegada e como está agora. “A cidade era muito devagar, muito parada, não tinha nada. A gente está sofrendo um pouco com aluguel, mas daqui uns tempos será melhor, estão construindo bastante, aí vai sobrar moradia”.

Sueli em seu trailer de comida, em uma das principais avenidas da cidade (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Nos trailers instalados no canteiro central, a comerciante Sueli Aparecida de Oliveira também observava a movimentação da cidade, enquanto atendia os clientes. “A cidade era parada, mas com a chegada da fábrica, o movimento aumentou bastante, então para mim foi muito positivo. Eu acho que vai melhorar mais”.

Ao mesmo tempo que o município vivencia o crescimento a passos largos, por outro lado, os moradores também observam a pacata Inocência perder sua identidade. A cidade antes era pacífica e local onde ‘todo mundo conhece todo mundo’. Pelo menos é o que relata o autônomo Nelson da Silva Pereira, de 65 anos. “Hoje você praticamente não conhece mais o pessoal, porque o fluxo de pessoas aumentou”.

No entanto, o autônomo conta que decidiu ‘abrir os braços’ para o desenvolvimento. “A gente vai passar por uma fase de adaptação, mas vejo isso com bons olhos. Tudo que vem rápido fica meio desordenado, mas vamos conseguir”.

Nelson ‘assiste’ cidade crescer e aos poucos perder título de pacata e quieta (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Moradores esperam que cidade acompanhe o desenvolvimento

A dona de casa Elis Regina Guimarães, de 25 anos, avalia que a chegada da fábrica foi positiva, porque muitas pessoas estavam precisando de trabalho. O entanto, também acendeu um alerta para diversos gargalos na infraestrutura e serviços essenciais. A expectativa é que, com todo o burburinho causado pela celulose, o poder público invista em melhorias para Inocência.

“A saúde aqui tá meio devagar e a educação também precisa melhorar. Por exemplo, tem muitas mães aqui que precisam levar os filhos pra escola embaixo de chuva e sol. Tinha que ter mais ônibus dentro da cidade, construir mais pontos, tá precisando muito de um ônibus escolar para as crianças”, explica Elis.

A empresária Mariene Garcia, de 39 anos, relata que sentiu a mudança na rotina e perfil econômico da cidade. Suas principais preocupações são em relação à possível falta de moradias, especulação imobiliária e segurança pública. Por outro lado, ela comemora o aumento da cliente em sua papelaria.

“Hoje a cidade tem capacidade de atender um novo nicho de pessoas que estão chegando, então logo surgem várias oportunidades de negócio também. Algumas atividades parecem que vão deixar de existir, para dar espaço para as outras. A gente também está um pouco inseguro, porque ainda não há um policiamento efetivo para lidar com a chegada de tantas pessoas”, descreve Mariene.

Além disso, a empresária expressa que sente falta do perfil pacato de Inocência, quando seus filhos podiam andar livremente pelas ruas e todo mundo se conhecia. No entanto, a expectativa é de que, passado a fase de transição, a cidade se torne ‘confortável’ novamente.

“Eu acredito que serão dois anos difíceis para todo mundo, mas a gente espera que isso impacte positivamente nossas vidas e que a gente consiga vender mais e que venham mais negócios. Estamos confiantes”, expressa a empresária.

O município, de apenas 8,4 mil habitantes (de acordo com o censo do IBGE), viu sua população quase dobrar (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Migrantes são atraídos pela promessa de crescimento  

Morando há três meses em Inocência, Ana Maria Santana Portilho, de 23 anos, decidiu sair do Tocantins e vir para Mato Grosso do Sul em busca de oportunidade de emprego. Ela conta que ficou sabendo de uma vaga para recepcionista em um hotel através do primo do marido, e aceitou atraída pela promessa de crescimento da cidade.

“Ele falou que o dono do hotel estava precisando de alguém, e eu e meu marido estávamos procurando uma oportunidade parecida com essa, e acabou sendo exatamente o que a gente estava precisando. Não foi nem dez dias combinando, e a gente já estava aqui pra trabalhar”, relata Ana.

Agora, a expectativa é se estabilizar para que ela possa trazer as duas filhas, que ficaram no Tocantins. “Buscamos uma estrutura pra gente poder conseguir firmar as pernas, porque a cidade está crescendo e se desenvolvendo, mas os preços estão altos”, detalha a recepcionista.

A cozinheira Stefany Jesus dos Santos está há cinco meses em Mato Grosso do Sul. Ela morava em Salvador, e foi indicada para inaugurar um restaurante em Inocência por um conhecido que já estava na cidade há um ano.

“Eu vim e trouxe mais cinco baianos para trabalharem comigo. Fiquei sabendo que ia estar construindo uma nova fábrica e ia ter muito serviço, a gente ia ganhar bem, então a gente veio abraçar a oportunidade”, detalha a cozinheira.

Stefany conta que a ideia é passar os próximos cinco anos morando em Inocência, mas se a promessa de expansão da cidade for tão boa quanto parece, não pretende mais ir embora do Estado. Em junho deste ano, ela tem planos de buscar os filhos, que ficaram em Salvador.

Stefany saiu de Salvador com grupo de cinco pessoas para trabalhar em Inocência (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Rotatória localizada na entrada da cidade (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

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