Por NERI KASPARY
Os incêndios no pantanal, que somente nas primeiras duas semanas devastaram mais de 150 mil hectares do bioma em Mato Grosso do Sul, estão fora de controle e esta tragédia acendeu o sinal de alerta dos produtores de eucaliptos, que cobram principalmente uma atuação maior do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e da Enersisa.
Em Mato Grosso do Sul, onde o volume de chuvas está abaixo da média desde outubro do ano passado, existem em torno de 1,5 milhão de hectares com plantações de eucaliptos, segundo a Reflore (Associação de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas). E, boa parte disso está às margens de rodovias federais, como a BR-262 e a BR-158.
Nestas rodovias, conforme o produtor Chico Maia, o máximo que o DNIT faz é limpar dois ou três metros da vegetação, mas deixa mais de 25 metros de mato de cada lado da pista e uma única bituca de cigarro ou faísca de algum veículo pode dar origem a incêndios com prejuízos milionários.
Além disso, o produtor também cobra a modernização das redes de energia e limpeza da vegetação sob esta fiação. De acordo com ele, em vários locais a rede ainda é composta por postes de madeira e fiação não recebe a devida manutenção.
Em outubro do ano passado, segundo ele, um incêndio provocado pelo rompimento de um destes antigos cabos de energia deu origem a um incêndio que destruiu 220 hectares de eucalipto em sua propriedade.
O prejuízo, segundo ele, foi da ordem de R$ 6 milhões e para tentar conseguir algum ressarcimento são necessários uma série de apelações, inclusive na esfera judicial.
Uma vez atingida por um incêndio, a floresta não pode mais ser aproveitada pela indústria de celulose, segundo Chico Maia. E, a depender a idade da plantação, serve apenas para carvão.
E os danos só não foram maiores porque os produtores e as indústrias de celulose têm uma espécie de exército de brigadistas para entrar em ação nestes casos.
MONITORAMENTO EM TEMPO INTEGRAL
Agora, com o aumento da estiagem e o consequente risco de incêndios, estas equipes ficam monitorando as imagens de satélites em tempo integral para detectar possíveis focos logo no início e assim mobilizar os brigadistas que estiveram mais próximos.
Somente a Suzano, que tem em torno de 600 mil hectares de florestas no Estado, tem 29 torres equipadas com câmeras de 360 graus. Estas torres têm até 72 metros de altura e as câmeras são capazes de detectar focos de fumaça ou fogo em um raio até 15 quilômetros.
Desde que foi implantada, a tecnologia trouxe uma redução de 31% no tempo médio de resposta a focos de incêndio e a cobertura do sistema de monitoramento chega a 90% das áreas florestais da Suzano e vizinhanças, incluindo unidades de conservação existentes na região, segundo a assessoria da empresa.
A companhia conta também o monitoramento em tempo real por satélite, capaz de captar focos de calor em 100% das áreas florestais e no seu entorno. “O planejamento das ações de combate a incêndios é contínuo. O nosso objetivo é estarmos cada vez melhor preparados e prontos para combater todo e qualquer foco de incêndio e em prol da preservação da biodiversidade na nossa região”, destacou Jansen Barrozo Fernandes, gerente Executivo de Operações Florestais da Suzano.
De acordo com o gerente, a companhia conta ainda com o apoio de aeronaves que ficarão de prontidão para atuar com o objetivo de otimizar o tempo de resposta em casos de focos de incêndios durante o período mais crítico da estiagem. O empenho dos aviões faz parte de uma ação em parceria com a Reflore MS.
Além das torres de monitoramento, a brigada de incêndios da Suzano tem uma infraestrutura composta por equipamentos de proteção individual e kits de emergência, oito caminhões de combate a incêndio de alta capacidade (18 mil litros). Além disso, são 22 caminhonetes com capacidade para até 600 litros; quatro caminhões multitarefas (4 mil litros) e 35 caminhões pipas distribuídos em pontos estratégicos.
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