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Rota Bioceânica: projeto avança e já muda integração entre países sul-americanos

Com ideia surgida na década de 1960, projeto evoluiu e agora se chama Corredor Bioceânico de Capricórnio

por Nathally Martins da Silva Bulhões

Por Liana Feitosa

Foi em 1960 que o economista e político brasileiro Celso Furtado levantou a ideia de conectar os oceanos Atlântico e Pacífico através de uma rede de infraestrutura que facilitaria o comércio e a integração econômica entre os países sul-americanos.

Mesmo que ainda distante do que viria a ser esse projeto, a gênese do corredor é atribuída a essa iniciativa de Furtado.

Depois disso, a criação de acordos e de grupos inter-regionais nos anos 1970 e na década de 1990, foram alguns dos avanços para o nascimento do projeto concreto.

Assim, em agosto de 2000, como parte da agenda da Primeira Cúpula Sul-Americana em Brasília, foi criada a Iniciativa para a IIRSA (Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana). Esse passo teve como foco promover a integração física e econômica da região sul-americana por meio de projetos de infraestrutura.

Depois de 50 anos

Mais de 50 anos depois das primeiras ideias compartilhadas por Furtado, um dos passos mais significativos foi dado em 2015, com a assinatura da “Declaração de Assunção sobre Corredores Bioceânicos”.

O documento foi assinado pelos presidentes da Argentina, Brasil, Chile e Paraguai durante a cúpula do Mercosul, na capital paraguaia.

Mapa da Rota Bioceânica, o Corredor Bioceânico de Capricórnio (Foto: Site oficial)

A partir daí, cada país instruiu seu respectivo Ministério das Relações Exteriores a formar um Grupo de Trabalho Quadripartite, que integrasse as áreas de infraestrutura, obras públicas, transportes e outras instituições para impulsionar os estudos técnicos e formular as recomendações pertinentes para a rápida concretização do corredor.

O projeto então se popularizou nessas regiões sob o nome de Rota Bioceânica e, hoje, se desenvolve sob o nome de CBC (Corredor Bioceânico de Capricórnio).

Para que haja uma “linha mestra” para guiar os trabalhados dos governos, foi definido o Plano Mestre Regional de Integração e Desenvolvimento do Corredor Bioceânico de Capricórnio.

Continuamente o Plano Mestre terá foco em melhorar a rota, facilitando o comércio transfronteiriço por meio do planejamento, gestão e coordenação regional dos governos nacionais e dos estados subnacionais que fazem parte do CBC.

Estratégias de divulgação

Para consolidar a imagem do projeto, nesta semana os governadores e outras autoridades dos 8 territórios subnacionais que compõem o Corredor Bioceânico de Capricórnio, a Rota Bioceânica, definiram a identidade visual do empreendimento.

Segundo a ata do 6º Foro de Los Gobiernos Subnacionales del Corredor Bioceânico – ou, em português, 6º Fórum dos Territórios Subnacionais do Corredor Bioceânico -, foram definidas a imagem corporativa do Fórum, logotipo e o site oficial da cúpula responsável pelas decisões relativas ao corredor.

Para o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, essas definições são fundamentais para que o projeto possa não só mais divulgado, mas para que a divulgação seja feita de maneira mais sólida e eficiente.

Já no ar, o site https://corredorbioceanico.org/ reúne informações em três idiomas, espanhol, português e inglês, sobre os governos que fazem parte da rota, assim como detalhes, imagens e mapas sobre o trajeto, explicando o que é o empreendimento e, também, apresentando notícias sobre o tema.

A ideia é que a página seja uma referência e fonte de informações sobre o corredor.

Recursos investidos

Esse Plano é gerido pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que ficará com o secretariado geral do Fórum de Governadores.

“O BID está colocando US$ 600 mil nesse projeto, mostrando que ele está acreditando demais na estruturação dessa governança. Então esse foi talvez um ponto extremamente relevante para este 6º fórum que acontece aqui. E dentro dessa governança, o BID passa a exercer a Secretaria Geral. Então isso também dá um profissionalismo e um foco de atuação muito grande para o fórum”, analisou Eduardo Riedel.

Além disso, cada país está investindo massivamente nas obras para que a rota tenha operabilidade e atenda exigências tecnológicas, de infraestrutura e segurança.

Infraestrutura do corredor

O projeto prevê 4 sistemas portuários públicos e privados na costa do Pacífico, no Chile:

  • Iquique
  • Antofagasta
  • Mejillones
  • Tocopilla
Mapa mostra encurtamento da rota de exportação para Ásia a partir do Corredor Bioceânico (Foto: Reprodução – Governo de Tarapacá)

Para que essas estruturas funcionam plenamente, os governantes destacam que vários desafios precisam ser vencidos, como a necessidade de urbanização que se impõe sobre um projeto dessa magnitude.

Ações de cunho social, ambiental e educativo precisam ser empregadas para possibilitar a integração de regiões isoladas por onde o corredor passa.

Afinal, não basta construir as estradas, é preciso toda uma estrutura conjunta para que a rota funcione, como postos de descanso, estruturas de hospedagem e alimentação, pontos de distribuição de energia elétrica, centros de distribuição de cargas e estrutura de armazenagem, entre outros.

O fórum de governadores já identificou a necessidade de melhoria e construção de instalações e serviços em alguns pontos:

  • Porto Murtinho – Carmelo Peralta (Brasil – Paraguai)
  • Pozo Hondo – Misión La Paz (Paraguai – Argentina)
  • Jama (Argentina – Chile)
  • Sico (Argentina – Chile)
  • Socompa (Argentina – Chile / ferroviário)

A estimativa dos governos é que a rota esteja em plena operação a partir do final de 2026.

Construção da ponte que liga Carmelo Peralta (Paraguai) a Porto Murtinho (MS). (Foto: Site oficial)

Segundo Arnold Wies Durkesen, ex-ministro de Obras Públicas (2018 a 2022) do Paraguai, as obras no país já estão avançadas, com 275 km asfaltados entre Porto Murtinho e Carmelo Peralta (PY), com uma ponte que conecta ambos territórios sobre o Rio Paraguai.

A ponte está 65% concluída e até 2026 estará pronta. Além disso, ainda de acordo com o porta-voz, será construído um aeroporto em Carmelo Peralta para conectar a região também de forma aérea.

O Paraguai também está desenvolvendo um projeto para se conectar à Bolívia em uma “linha reta” por terra, 300 km ao norte, até chegar ao território boliviano.

Em Mato Grosso do Sul, a Rota tem três frentes que continuam com obras em execução.

  • A ponte binacional Brasil-Paraguai, sobre o Rio Paraguai, entre Porto Murtinho e Carmelo Peralta (PY);
  • O contorno rodoviário para acesso à ponte, na BR-267, em Porto Murtinho;
  • E o asfaltamento de trecho de 225 km na Picada 500, estrada de terra no Chaco paraguaio, que dá seguimento à rodovia brasileira.

Próximos passos

Segundo os gestores dos territórios, agora, entre as prioridades do fórum estão as questões que envolvem as aduanas, e os desafios de unificar regramentos e legislações para que o trânsito de cargas flua na rota, apesar de passar por vários países.

“É claro que são os governos federais que terão que tomar as decisões definitivas, mas temos que unificar, algo que não é pequeno, mas unificar a legislação para que um caminhão possa ter uma só regra para atravessar diversos países”, destacou Alejandro Eduardo Marenco, secretário de segurança da província de Jujuy, na Argentina.

Além de criar uma legislação própria para a logística de transporte terrestre da rota, o grupo também espera trabalhar questões relativas às matrizes econômicas.

“Temos que pensar em mudanças até mesmo de matrizes econômicas para aproveitarmos todo o potencial da rota. Não importa de que lado político cada governador vem, está muito claro para nós que temos um objetivo comum e que todos querem trabalhar integrados por ele”, completou Alejandro.

Rodovia da Rota Bioceânica que passa por Tocopilla, cidade de Antofagasta, no Chile. (Foto: site oficial)

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