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Segundo CEO da Paper Excellence, empresa não pretende adquirir terras no Brasil

Conforme Cláudio Cotrim, CEO da empresa no Brasil, mesmo com a expansão global da PE, seu projeto no país não inclui aquisições de imóveis rurais

por Nathally Martins da Silva Bulhões

De acordo com Cláudio Cotrim, CEO da Paper Excellence no Brasil – que há seis anos trava uma disputa judicial com a J&F Investimentos pelo controle da Eldorado Brasil Celulose –, a multinacional indonésia não pretende ser proprietária de terras no país.

Ainda assim, na tentativa de anular a venda da Eldorado para a Paper Excellence – firmada em 2017 por R$ 15 bilhões – os irmãos Wesley e Joesley Batista, donos da J&F, têm usado as restrições à propriedade rural por parte de estrangeiros como principal base de argumentação na disputa pela empresa.

“O grupo Paper Excellence tem se expandido globalmente a partir de aquisições de indústrias de papel e celulose. No Brasil, o projeto da Paper Excellence não é de aquisições de imóveis rurais”, disse Cotrim, em entrevista à Coluna Capital.

Atualmente a Paper Excellence possui 49,41% das ações e decisões favoráveis da corte arbitral e em primeira instância no Tribunal de Justiça de São Paulo, no entanto, a transferência do controle e das ações remanescentes foi suspensa por uma liminar do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), de Santa Catarina, favorável a uma ação popular movida por Luciano Buligon, ex-prefeito de Chapecó.

Para Buligon, o negócio fere a soberania nacional e diz na ação ter tomado conhecimento da presença de representantes da Paper Excellence e da Eldorado, em Chapecó, que teriam ido sondar agricultores da região, em Santa Catarina, para a compra de terras. “O escopo dessa aquisição é a expansão das operações de plantio de eucaliptos para extração da madeira e exportação para a região da Ásia”, disse o ex-prefeito na ação.

Nesse contexto, Buligan apresentou um documento registrado em cartório pelo empresário Valdir Crestani, como suposta prova, porém, a ata notarial registrada por Crestani não apresenta contratos, registros ou nomes de representantes ou agricultores proprietários das terras.

Cotrim nega a existência de interesse ou lógica econômica para a aquisição de terras em Santa Catarina. “A Paper assinou contrato para a compra das ações da Eldorado Celulose, um complexo industrial, logístico e comercial, composto por uma das maiores fábricas de celulose do mundo, instalações portuárias em Santos e unidades em diversos países. A Paper não comprou qualquer imóvel rural no Brasil e nunca foi à Santa Catarina prospectar terras, até porque, não faria qualquer sentido econômico para o negócio da Eldorado utilizar terras em Santa Catarina, para então transportar madeira por mais de 1000 quilômetros até a fábrica em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul”, disse Cotrim. “Além disso, hoje a Eldorado tem madeira em excesso e o Mato Grosso tem potencial para fornecer toda a madeira necessária para o projeto”, completou.

Ainda assim, Buligon, afirma que possui “o depoimento de um cidadão” que contou ter havido “visitas de empresários” em nome da PE para a aquisição de terras “por valores acima de mercado”. “Tenho cinco ou seis nomes de agricultores que foram procurados [por representantes da Paper]”, afirmou o ex-prefeito.

Nos autos do processo, a Paper Excellence afirmou que a Eldorado é dona de 5,07% dos 285 mil hectares de fazendas de eucalipto que abastecem a fábrica de celulose em Três Lagoas (MS) e que o restante são terras de brasileiros, onde o cultivo é feito mediante contratos de arrendamento (maior parte) e parcerias (quando o dono da terra é responsável pela plantação). De acordo com o que foi apresentado até o momento, os imóveis próprios estão avaliados em R$ 101,7 milhões, o equivalente a 0,67% do valor total do contrato da compra da Eldorado Celulose.

Buligon pede que a PE apresente uma autorização prévia do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Congresso para explorar terras brasileiras. “Não tenho pretensão de fazer obstáculo a qualquer negócio. Estou apenas pedindo que se cumpra a lei. Pode acontecer a venda desde que o Incra e o Congresso deem as autorizações”, declarou Buligon.

Requisitado a se manifestar nos autos da ação popular, o Incra descartou que haja risco à soberania nacional.

ARRENDAMENTO

Contudo, mesmo não sendo dona de 95% das terras que abastecem a fábrica de celulose, a PE precisará transformar alguns contratos de arrendamento em contratos de parceria, adequando-se à legislação brasileira. No entanto, segundo a empresa, isso só poderá ser feito após assumir o controle do negócio, visto que ela não está na gestão e não tem acesso aos contratos com os donos das terras.

Nesse sentido, já existe um processo administrativo aberto no Incra sobre o caso da Eldorado e, uma vez feita a transferência das ações, caberá ao órgão do ministério do Desenvolvimento Agrário estabelecer os prazos para se adequar à lei das terras.

 

Portal Celulose

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