Para barrar o apoio de deputados federais e senadores ao governo do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em votações no Congresso Nacional, a senadora Tereza Cristina, líder do partido na Casa de Leis, elaborou uma cartilha com um conjunto de regras “inegociáveis” e que deverão ser seguidas por todos os filiados à legenda.
Durante visita ao Correio do Estado na manhã de sexta-feira, a parlamentar sul-mato-grossense informou que a criação do manual foi uma determinação do presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira, para deixar bem claro que a sigla jamais fará parte da base aliada do governo Lula.
Na prática, o guia é uma resposta ao fato de o deputado federal André Fufuca (PP-MA) ter tomado posse, no dia 13, como novo ministro do Esporte, em substituição à ex-jogadora de vôlei Ana Moser. Ele mesmo já havia dito que o partido continua independente nas votações no Congresso, mesmo com sua entrada na Esplanada.
A senadora revelou ainda que, nesta terça-feira, em Brasília (DF), participará de uma reunião com Nogueira, a fim de lhe apresentar o esboço da cartilha.
“Coloquei algumas cláusulas para quem está no partido seguir. Por exemplo, têm coisas que os congressistas do PP não poderão votar contra porque já estão no estatuto de compromisso do partido, tais como aumento de impostos. Se tiver alguma coisa que o governo Lula apresentar no Congresso nesse sentido, a bancada do PP terá de votar contra”, afirmou.
Tereza Cristina completou que, obviamente, alguns integrantes da base aliada de Lula no Congresso falarão que o PP tem uma Pasta no ministério e que, por isso, teria de seguir a orientação do PT.
“Nesses casos, o partido responderá que o cargo não foi uma negociação da legenda. Portanto, não há nenhum compromisso de caminhar junto ao governo federal”, adiantou.
A líder do PP no Senado confirmou ainda que aqueles congressistas que não seguirem as regras contidas na cartilha sofrerão punições.
“Vai ter sanções para quem não acompanhar. Eu fiquei encarregada de pegar todas as sugestões que foram dadas e, nesta terça-feira, vamos discutir o que fica e o que não fica. Depois, será colocada em votação e, caso seja aprovada pelos membros do PP, aí acabou. Daí para frente, quem não seguir, não teremos nem discussão, o parlamentar será suspenso ou até expulso”, alertou.
A senadora argumentou que o colega de legenda e presidente nacional do PP tem muita força dentro do partido, e é ele quem manda.
“O Ciro [Nogueira] é o nosso coronel, tanto que quem negociou esse ministério com o Lula foi o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados. E não negociou muito bem, porque se o Ciro tivesse entrado de cabeça nessa negociação, talvez
o espaço seria maior”, ironizou.
Tereza Cristina acrescentou que Nogueira tem dito publicamente que o partido não é base do governo Lula.
“O próprio Fufuca deu uma entrevista reforçando que ele está no governo, mas o PP não é base do governo. É que ele não garante nada. Agora, teremos algumas votações importantes no Congresso, e o governo poderá medir se, na Câmara, poderá contar com votos de deputados do PP, pois, no Senado, todos os senadores da legenda são da oposição”, afirmou.
CONTEÚDO
Quando começaram as conversas de que o PP teria um ministério no governo Lula, em julho, o presidente Ciro Nogueira já tinha adiantado que o partido confeccionaria uma cartilha com regras “inegociáveis” e que deveriam ser seguidas por todos os filiados à legenda.
Ele inclusive chegou a publicar na rede social X (antigo Twitter) um comunicado para todos os líderes da sigla, de que, em breve, anunciaria o que chamou à época de “agenda central”.
“A agenda central será fruto de ampla discussão e participação interna e definirá o que seriam as nossas cláusulas pétreas, inegociáveis, a transcrição, de forma simples, dos princípios que todos somos obrigados a seguir no partido”, informou.
Ainda conforme Nogueira, essa agenda corresponderá ao cerne dos princípios ideológicos do PP e demonstrará, de maneira transparente, que todas as iniciativas que estiverem de acordo com as diretrizes estabelecidas merecerão boa acolhida.
Do mesmo modo, qualquer ação que colida ou vá na contramão da cartilha, com a mesma antecipada transparência, encontrará ferrenha oposição.
“Não fazemos política orientada a governos, mas em relação ao País e ao que acreditamos melhor para o Brasil.
A agenda central é a linha divisória daquilo que defendemos e do que jamais apoiaremos”, postou o presidente nacional do PP.