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TJMS oferece ajuda para pessoas adotadas encontrarem origens

Filhos adotivos podem acessar processo de adoção e pais biológicos por meio do programa Minhas Raízes; especialista afirma que busca pode evitar futuros traumas

por Nathally Martins da Silva Bulhões

Pessoas que foram adotadas de forma legal no Estado podem buscar por familiares biológicos ou informações do seu processo de adoção pelo programa Minhas Raízes, do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul (TJMS). Mesmo a adoção sendo um assunto delicado, especialista orienta que o tema seja tratado desde cedo para evitar possíveis traumas nas crianças que foram adotadas.

Iniciativa da Coordenadoria da Infância e Juventude do TJMS, em parceria com a Vara da Infância, Juventude e do Idoso de Campo Grande, o programa Minhas Raízes tem como objetivo proporcionar
à pessoa adotada acesso rápido ao seus processos de adoção e de destituição do poder familiar, permitindo, assim, que conheça sua história biológica.

Em maio, foi registrado o primeiro contato de uma pessoa adotada em 1992 no Estado. A participante reside atualmente no Rio Grande do Sul e, ao solicitar as informações, descobriu que sua mãe faleceu durante o parto e que foi entregue para adoção pela avó materna. A requerente sempre esteve em busca de suas origens e agora terá a possibilidade de conhecer sua história.

A psicóloga Izabelli Corleone afirma que a adoção deve ser conversada entre pais e filhos desde o início do processo, de modo que a criança ou o adolescente saiba como entender as possíveis diferenças.

“Falar sobre a adoção com os filhos precisa ser trabalhada até antes da adoção, porque o melhor caminho sempre será a verdade. A verdade com essa criança, com a história dela, e a possibilidade de continuar construindo essa nova etapa de vida com pessoas que a acolheram e optaram por amá-la”, argumenta.

Segundo Izabelli, a busca pelas origens das pessoas adotadas não é uma obrigatoriedade, mas caso a criança sentir vontade de conhecer sua história, então é uma questão importante a fim de evitar traumas e problemas psicológicos como ansiedade e depressão.

“Isso nos faz pensar que a importância se encontra por ser uma parte da vida dela que existe e não tem como ser excluída. Independente dos fatos ruins, se não houver um trabalho nosso, veremos a demanda do vazio, da falta, de algo que não se sabe”, detalha a psicóloga.

Para ela, os pais adotivos devem conversar entre si sobre os limites e as formas para que a busca ocorra. Apoiar a decisão dos filhos pode gerar uma maior confiabilidade e aproximação, além de contribuir para que a criança compreenda as verdadeiras motivações da adoção.

“Algumas vão abraçar o fato de que, ao se ter uma família nova, boa, alegre e feliz, não há necessidade de insistir em algo que, por algum motivo, não deu certo”, conclui.

A professora Áyra Tolentino, 28 anos, sempre soube que foi adotada. Ela conta que ganhou uma nova família com apenas 15 dias de vida. “Meus pais me contavam a minha história desde que eu era um bebê. Então, nunca teve esse ‘descobrir’, sabe? Eu sempre soube”, revela.

Áyra também não tem nenhuma relação com os pais biológicos, mesmo eles sendo abertos para contarem qualquer detalhe sobre a adoção. Porém, o fator de apoiar os filhos na decisão de encontrar ou não a família biológica, como defende a psicóloga Izabelli Corleone, é uma realidade para a professora.

A família adotiva de Áyra sempre deixou claro que, se um dia ela quisesse, poderiam juntos procurar sua história. Contudo, a jovem nunca teve curiosidade nem vontade de procurar seus pais biológicos.
“Eu não tenho nenhuma relação com meus pais biológicos. Com meus pais adotivos a relação é ótima tanto para mim quanto para eles. É uma relação como se fosse biológica. Tenho dois irmãos e uma irmã,
e somos tratados como iguais. Sempre fomos”, manifesta.

Áyra detalha que, mesmo não tendo interesse em conhecer sua origem, precisou de tratamento psicológicos que derivam da adoção, como o sentimento de abandono. “Em relação ao meu psicológico, querendo ou não, por motivo X ou Y, ele se agarrou a muitas coisas, ainda mais nos anos iniciais da minha vida”, pontua.
Para Marllon Cáceres, 29 anos, encontrar sua família biológica não foi uma escolha própria. Conforme ele, quando tinha cerca de 26 anos, seus pais adotivos buscaram pela família biológica do rapaz, o qual, mesmo conhecendo e sabendo de seu processo adotivo, não teve interesse em manter contato.

“Eu nunca tive interesse. Não era gente que me criava e que fazia parte do meu convívio, então não tem relevância nenhuma para mim. Só que como eu nunca quis saber, agora, depois de adulto, eles [pais biológicos] tentaram um contato. Mas eu não dei moral, não. São só pessoas estranhas”, reflete.
Ele detalha que, atualmente, só mantém contato por meio das redes sociais com uma irmã biológica que também foi adotada por outra família e que hoje mora em São Paulo.

Segundo Marllon, os pais adotivos explicaram desde cedo que ele foi adotado pois queriam de um casal de filhos, porém, não puderam conceber outra criança. “Souberam de um bebê para adoção – eu, no caso –, e fui adotado por eles”, finaliza.

 

ANA KARLA FLORES

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