“Trilha rupestre” é prova que história de Mato Grosso do Sul tem muito mais que 4 décadas

Que Mato Grosso do Sul “existe” desde 11 de outubro de 1977, e é a casa hoje de 2.756.700 pessoas*, muita gente já sabe. A realidade que poucos conhecem é que o Estado “guarda” vestígios do período jurássico e da pré-história, ou seja, de quando os 357.142,082 km² sul-mato-grossenses foram habitat de répteis gigantes e dos nossos antepassados milenares.

A 179 km da Capital, no caminho para Bonito, um dos destinos turísticos mais procurados por aqui, está o “Vale dos Dinossauros”. Para quem curte o universo da paleontologia, uma paradinha em Nioaque é uma boa pedida.

Rastro fossilizado de dinossauros que viveram por aqui (Foto: Jorge Luís Cardoso/Secretário de Turismo de Nioaque)
Logo na entrada da cidade, quem dá as boas vindas é um Abelissauro, uma espécie carnívora e bípede que viveu durante o período cretáceo, há cerca de 145 e 65 milhões de anos. Com 175 de fundação, o município descobriu ser o “berço” dos grandes lagartos em 2015, quando equipe de paleontólogos da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) anunciou a comprovação científica da existência de pegadas de dinossauros na região, uma descoberta que teve os primeiros registros na década de 1980.

O anúncio motivou a prefeitura a construir um monumento no trevo de acesso à Nioaque e lançar um plano de marketing denominando o município de Vale dos Dinossauros. Mas, até hoje, chegar ao sítio paleontológico não é tarefa das mais fáceis, embora ele esteja localizado a cerca de 3 km do centro da cidade. É que o rastro fossilizado dos gigantes está “escondido” em propriedade particular, a Fazenda Minuano, e para ter acesso é preciso autorização do proprietário.

A recomendação é fazer contato com a Prefeitura de Nioaque pelo (67) 3236-1011 e pedir ajuda para que a visita seja agendada.

Templo dos Pilares é cercado pela natureza e serviu de refúgio para homens na pré-história (Foto: Parque Natural Templo dos Pilares/Divulgação)
Pré-história – Mato Grosso do Sul também preservou nas rochas as marcas das passagens dos primeiros humanos pela região. “Para se ter uma ideia, o Estado tem mais de 740 sítios arqueológicos registrados pelo Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional]”, explica a arqueóloga Lia Brambilla, pesquisadora e professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

Os vestígios pré-históricos mais antigos, encontrados até agora, são datados de 12,4 mil anos atrás e estão em Chapadão do Sul. Há ainda em terras sul-mato-grossenses registros da presença humana há 10,7 mil anos, em Alcinópolis, há 10,1 mil anos em Aquidauana e há 8.230 anos em Ladário.

“Por estarmos no centro da América do Sul, os grupos passavam por aqui. Era um lugar de encontro de pessoas. Os mais antigos, que viveram há até 4 mil anos, eram os caçadores e coletores, nômades que formavam pequenos bandos e ficavam em sítios a céu aberto. Ele deixaram alguns registros, algo que nos conta sobre o dia a dia deles. Já os povos ceramistas e agricultores, que são os antepassados dos povos indígenas que aqui se consolidaram, viveram há até 2,8 mil anos”, explica a arqueóloga.

Pontinhos amarelos mostram onde foram encontrados rastros de grupos caçadores e coletores em MS (Foto: Rota Rupestre/Divulgação)
Uma das idealizadoras do programa Rota Rupestre – programa cujo objetivo, além de fazer escavações em busca do tesouro arqueológico enterrado em Mato Grosso do Sul, é possibilitar a criação de um roteiro turístico para quem se interessa pelos sinais encontrados debaixo da terra e “tatuados” nas pedras –, Lia Brambilla recomenda que os fascinados por esse mundo comecem conhecendo no Museu de Arqueologia da UFMS.

Lá, é possível observar, por exemplo, objeto de caçadores e coletores que estiveram na Capital. “O sítio arqueológico Campo Grande 3 fica aqui no Parque das Nações Indígenas e foi escavado pelo professor Gilson Martins”, revela.

Na Rota Rupestre, segundo a arqueóloga, os municípios de Rio Verde e Alcinópolis hoje são os mais estruturados para receber os adoradores do turismo arqueológico.

Lia Brambilla e equipe em busca de mais vestígios na semana passada, em Alcinópolis (Foto: Arquivo pessoal)
Famoso no mapa – Cercado pela natureza, o Templo dos Pilares, em Alcinópolis, está a 402 km da Capital e proporciona verdadeiro mergulho no passado milenar de Mato Grosso do Sul. O lugar foi tombado como patrimônio cultural brasileiro e tornou-se uma unidade de conservação em 2003.

O passeio dura em média 3 horas entre ida e volta. São cerca de 40 km de carro, a partir do Centro da cidade até as proximidades do monumento natural. Depois, os turistas fazem uma trilha de 1,5 km até a formação rochosa de blocos de arenito com diferentes tamanhos, estrutura que virou tela em branco para os antepassados. As superfícies estão cobertas de pinturas feitas com corantes naturais, grafismos que sugerem animais e situações cotidianas.

O Cerrado e o Pantanal eram lugares de fartura de alimentos e segundo a pesquisa tocada por Lia Brambilla, “há indícios de que muitos grafismos ou desenhos poderiam servir para orientar sobre os locais onde encontrar alimentos em determinadas estações do ano, pois a biodiversidade pantaneira era atrativa para os grupos  humanos daquela época”. “Todo mundo merecia saber sobre a pré-história de Mato Grosso do Sul”, resume a pesquisadora.

Para agendar uma visita ao Templo dos Pilares é necessário entrar em contato com a Secretaria de Turismo no telefone (67) 3260-1739. São permitidos grupos de até 12 pessoas e os passeios são feitos das 7h às 17h.

(*) Dado do último Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

 

Por Anahi Zurutuza

(Foto: Parque Natural Templo dos Pilares/Divulgação)

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